por Adelto Gonçalves
I Só mesmo o atraso cultural em que está mergulhado justificaria que, mais de um século depois da morte de Machado de Assis (1839-1908), o Brasil ainda não conte com uma edição da obra completa daquele que é considerado o seu maior escritor. Para reparar essa falha (vergonhosa para o big business editorial brasileiro), a Editora da Universidade Estadual Paulista (Unesp) pretende entregar a urgente tarefa a uma equipe de especialistas sob o comando do professor francês Jean-Michel Massa, autor de A juventude de Machado de Assis – 1839-1870 (Rio de Janeiro, Civilização Brasileira, 1971; 2ªed. São Paulo: Ed.Unesp, 2009), tradução de Marco Aurélio de Moura Matos de sua tese de doutoramento La jeunesse de Machado de Assis (1839-1870): essai de biographie intellectuelle (Université de Poitiers, 1969).
Enquanto não se criam as condições materiais para um empreendimento dessa envergadura – que seria comum em países desenvolvidos --, o professor Jean-Michel Massa faz o que pode e está ao seu alcance, embora tenha sido obrigado a esperar quase 40 anos não só para que uma editora universitária brasileira se interessasse por uma segunda edição de sua obra como para que um editor privado colocasse nas livrarias outros de seus estudos relacionados a Machado de Assis. Assim é que a Editora da Unesp acaba de reeditar A juventude de Machado de Assis e a Crisálida Livraria e Editora, de Belo Horizonte, de lançar Três peças francesas traduzidas por Machado de Assis, com organização, introdução e notas de Jean-Michel Massa.
É de notar que, em 2008, a Crisálida já lançara o ensaio Machado de Assis tradutor, segunda parte da tese de doutoramento de Massa. Nesse trabalho, o autor acrescentou um apêndice em que transcreveu e anotou duas traduções inéditas de Machado: “Os burgueses de Paris” e “Tributos da mocidade”. Juntamente com uma terceira peça traduzida, “Forca por Forca”, também inédita, esses textos formam Três peças francesas traduzidas por Machado de Assis.
Ao lado de Raymundo de Magalhães (1907-1981) e José Galante de Sousa (1913-1986), Massa (1930), nascido em Paris, radicado em Rennes, é um dos principais pesquisadores dos textos machadianos, tendo ainda organizado Dispersos de Machado de Assis (1965) e Bibliographie descriptive, analytique et critique de Machado de Assis (1957-1958), além de numerosos ensaios e artigos com destaque para “La bibliothéque de Machado de Assis”, em que identifica 718 dos livros que pertenceram à biblioteca do escritor, e “A década do teatro: 1859-1869”, publicado em Cadernos de Literatura Brasileira (São Paulo: IMS, 2008).
Enquanto não se criam as condições materiais para um empreendimento dessa envergadura – que seria comum em países desenvolvidos --, o professor Jean-Michel Massa faz o que pode e está ao seu alcance, embora tenha sido obrigado a esperar quase 40 anos não só para que uma editora universitária brasileira se interessasse por uma segunda edição de sua obra como para que um editor privado colocasse nas livrarias outros de seus estudos relacionados a Machado de Assis. Assim é que a Editora da Unesp acaba de reeditar A juventude de Machado de Assis e a Crisálida Livraria e Editora, de Belo Horizonte, de lançar Três peças francesas traduzidas por Machado de Assis, com organização, introdução e notas de Jean-Michel Massa.
É de notar que, em 2008, a Crisálida já lançara o ensaio Machado de Assis tradutor, segunda parte da tese de doutoramento de Massa. Nesse trabalho, o autor acrescentou um apêndice em que transcreveu e anotou duas traduções inéditas de Machado: “Os burgueses de Paris” e “Tributos da mocidade”. Juntamente com uma terceira peça traduzida, “Forca por Forca”, também inédita, esses textos formam Três peças francesas traduzidas por Machado de Assis.
Ao lado de Raymundo de Magalhães (1907-1981) e José Galante de Sousa (1913-1986), Massa (1930), nascido em Paris, radicado em Rennes, é um dos principais pesquisadores dos textos machadianos, tendo ainda organizado Dispersos de Machado de Assis (1965) e Bibliographie descriptive, analytique et critique de Machado de Assis (1957-1958), além de numerosos ensaios e artigos com destaque para “La bibliothéque de Machado de Assis”, em que identifica 718 dos livros que pertenceram à biblioteca do escritor, e “A década do teatro: 1859-1869”, publicado em Cadernos de Literatura Brasileira (São Paulo: IMS, 2008).
II
Reflexo do atraso cultural brasileiro também é o desprezo que se dá no País ao trabalho do tradutor, atividade sempre mal remunerada e mal analisada. Por isso, não é de estranhar que igualmente as traduções de Machado de Assis tenham sido pouco valorizadas, vistas como uma atividade menor de alguém que na juventude precisava de alguns tostões para equilibrar o orçamento doméstico. Se são raros até hoje os estudos consagrados à tradução literária no Brasil, justifica-se, portanto, que poucos estudiosos tenham tido o interesse despertado para a atividade de tradutor de Machado de Assis.
É por isso que Três peças francesas traduzidas por Machado de Assis adquire excepcional importância, ao permitir outra leitura do escritor e de sua obra, pois não há dúvida de que os temas e autores que traduziu muito influenciaram nos livros que escreveu. Além disso, Machado de Assis é de uma época em que não se exigia do tradutor o rigor e a fidelidade ao original que são exigidos hoje, o que significa que, em muito do que traduziu, pode ter deixado a sua marca de ficcionista, com acrescentamentos que só melhorariam o texto original.
Por isso, muitas das traduções de Machado de Assis podem ser vistas mais como adaptações ou recriações. E, portanto, não é de estranhar que provoquem muitas discussões e dissensões entre os críticos, pois sempre haverá quem veja em determinado texto muito mais de Machado do que do autor original. O que explica também que, contra todas as evidências, alguns acadêmicos tenham continuado a tomar Queda que as mulheres têm para os tolos (Belo Horizonte: Crisálida, 2003; Campinas: Editora da Unicamp, 2008;) como obra da lavra de Machado de Assis, quando é uma tradução de um original do belga Victor Hénaux (Liège: F.Renard, Editeur, 1858), ainda que, em 1971, Massa já houvesse provado isso. Isso se deu, provavelmente, porque A juventude de Machado de Assis se tornou obra rara, praticamente ausente das bibliotecas universitárias.
Neste aspecto é de lembrar, como exemplo, que Bocage (1765-1805), ao traduzir, também deixava a imaginação voar, a ponto de a tradução que fez de Os jardins ou a arte de aformosear as paisagens (Lisboa: Tipografia Calcográfica e Literária do Arco do Cego, 1800), de Delille (1738-1813), apresentar 2.388 versos, enquanto o poema original comporta 1962 versos, como assinalou António Gedeão, pseudônimo de Rómulo de Carvalho (1906-1997), em “O sentimento científico em Bocage” (separata da revista Ocidente, Lisboa, 1965, v. LXIX, p.190-191).
É por isso que Três peças francesas traduzidas por Machado de Assis adquire excepcional importância, ao permitir outra leitura do escritor e de sua obra, pois não há dúvida de que os temas e autores que traduziu muito influenciaram nos livros que escreveu. Além disso, Machado de Assis é de uma época em que não se exigia do tradutor o rigor e a fidelidade ao original que são exigidos hoje, o que significa que, em muito do que traduziu, pode ter deixado a sua marca de ficcionista, com acrescentamentos que só melhorariam o texto original.
Por isso, muitas das traduções de Machado de Assis podem ser vistas mais como adaptações ou recriações. E, portanto, não é de estranhar que provoquem muitas discussões e dissensões entre os críticos, pois sempre haverá quem veja em determinado texto muito mais de Machado do que do autor original. O que explica também que, contra todas as evidências, alguns acadêmicos tenham continuado a tomar Queda que as mulheres têm para os tolos (Belo Horizonte: Crisálida, 2003; Campinas: Editora da Unicamp, 2008;) como obra da lavra de Machado de Assis, quando é uma tradução de um original do belga Victor Hénaux (Liège: F.Renard, Editeur, 1858), ainda que, em 1971, Massa já houvesse provado isso. Isso se deu, provavelmente, porque A juventude de Machado de Assis se tornou obra rara, praticamente ausente das bibliotecas universitárias.
Neste aspecto é de lembrar, como exemplo, que Bocage (1765-1805), ao traduzir, também deixava a imaginação voar, a ponto de a tradução que fez de Os jardins ou a arte de aformosear as paisagens (Lisboa: Tipografia Calcográfica e Literária do Arco do Cego, 1800), de Delille (1738-1813), apresentar 2.388 versos, enquanto o poema original comporta 1962 versos, como assinalou António Gedeão, pseudônimo de Rómulo de Carvalho (1906-1997), em “O sentimento científico em Bocage” (separata da revista Ocidente, Lisboa, 1965, v. LXIX, p.190-191).
III
Para duas obras reunidas em Três peças (...), não se trata de uma descoberta, adverte Massa. “Os burgueses de Paris” e “Tributos da mocidade” estão assinaladas em Bibliografia de Machado de Assis (1965), de Galante de Sousa. O manuscrito de “Os burgueses de Paris” faz parte do acervo da Biblioteca Nacional do Rio de Janeiro (BNRJ), onde Massa o consultou e fotocopiou para compará-lo ao original de Dumanoir, Clairville e Jules Cordier, seus autores. É comédia de três atos, que foi representada no teatro Ginásio, em Paris, em junho de 1850. A tradução de Machado de Assis deve se situar entre 1855 e 1859, segundo Galante de Sousa.
O segundo texto, “Il faut que jeunesse se paye”, ou “Tributos da mocidade”, é comédia em quatro atos, de Léon Gozlan (1806-1866), que foi representada em Paris pela primeira vez em setembro de 1858 O manuscrito também está na BNRJ. A publicação dessas duas peças fazia parte de plano aprovado em 1958 pela Comissão Machado de Assis, mas a iniciativa não foi adiante por alguma razão que não se conhece, mas que se pode intuir com facilidade em razão da leviandade com que as questões culturais são tratadas no País.
A terceira peça, ‘Forca por forca”, Massa soube que se encontrava conservada numa biblioteca pública de São Paulo por indicação de seu amigo Décio de Almeida Prado (1917-2000). É um drama em cinco atos e um prólogo de Paul-Jules Barbier (1803-1869), representado pela primeira vez em Paris em 13 de fevereiro de 1867 no teatro do Ambigu Comique. Tinha por título “Maxwel” (1864). “Mais que um drama, é uma tragédia, uma vez que há um assassinato que é descoberto graças ao juiz chamado Maxwel”, diz Massa, lembrando que esse nome remete para o físico escocês James Clark Maxwell (1831-1879), divulgador das teorias científicas na linha do médico Franz Anton Mesmer (1734-1815), nome citado na peça, autor, um século antes, do magnetismo animal.
O segundo texto, “Il faut que jeunesse se paye”, ou “Tributos da mocidade”, é comédia em quatro atos, de Léon Gozlan (1806-1866), que foi representada em Paris pela primeira vez em setembro de 1858 O manuscrito também está na BNRJ. A publicação dessas duas peças fazia parte de plano aprovado em 1958 pela Comissão Machado de Assis, mas a iniciativa não foi adiante por alguma razão que não se conhece, mas que se pode intuir com facilidade em razão da leviandade com que as questões culturais são tratadas no País.
A terceira peça, ‘Forca por forca”, Massa soube que se encontrava conservada numa biblioteca pública de São Paulo por indicação de seu amigo Décio de Almeida Prado (1917-2000). É um drama em cinco atos e um prólogo de Paul-Jules Barbier (1803-1869), representado pela primeira vez em Paris em 13 de fevereiro de 1867 no teatro do Ambigu Comique. Tinha por título “Maxwel” (1864). “Mais que um drama, é uma tragédia, uma vez que há um assassinato que é descoberto graças ao juiz chamado Maxwel”, diz Massa, lembrando que esse nome remete para o físico escocês James Clark Maxwell (1831-1879), divulgador das teorias científicas na linha do médico Franz Anton Mesmer (1734-1815), nome citado na peça, autor, um século antes, do magnetismo animal.
IV
Na introdução que escreveu para Três peças (...), Massa dá outra contribuição notável, ao mostrar o contexto em que essas peças foram escritas e quem foram os seus autores. Por Massa, ficamos sabendo que “Os burgueses de Paris”, peça política, foi escrita a soldo do poder por Clairville, pseudônimo de Louis-François Nicolaie (1811-1879), Jules Cordier (1802-1859) e Dumanoir, pseudônimo de Philippe-François Pinel (1806-1865), diretor de teatro.
Segundo Massa, este Pinel seria um autor vira-casaca, defensor da República que passou a apoiar o príncipe Napoleão, autor do golpe de estado, ou seja, um oportunista, que escrevia e montava vaudevilles para agradar ao poder.
De Léon Gozlan, Massa diz ter sido um romancista que por algum tempo trabalhou como secretário de Honoré de Balzac (1799-1850), atividade de que se aproveitou para escrever Balzac intime chez lui. Já Paul-Jules Barbier, autor de ‘Maxwel”, foi um escritor célebre, responsável por vários livretos de óperas representadas ainda hoje.
Diz Massa, com certa ironia, que o tema de “Maxwel” não é estranho ao Brasil, que até hoje, em alguns de seu segmentos, ainda discute a teoria de Hippolyte Léon Denizar Rivail, aliás Allan Kardec (1804-1869), pedagogo considerado codificador do espiritismo. É de notar que ainda hoje os franceses se surpreendem com a romaria de turistas brasileiros em torno de seu túmulo em Paris, já que é um nome completamente esquecido na França e que, em sua época, foi visto mais como um charlatão do que um investigador de fenômenos paranormais. E que Machado de Assis costumava ridicularizar as experiências mediúnicas que se faziam no Rio de Janeiro.
Massa assegura que o jovem Machado dominava amplamente o francês, mas não deixa de apontar alguns deslizes do tradutor, tendo encontrado pelo menos dez equívocos em “Os burgueses de Paris”. Um deles é que Machado não percebeu que La Pistole, nome de uma prisão em Paris, queria designar também um local em que, mediante pagamento por fora, o preso recebia um tratamento melhor. Outro erro é que o tradutor tomou “moutard” como nome de família, embora a palavra em francês falado queira dizer “moleque”. Equívocos que, provavelmente, deram-se porque Machado de Assis nunca saiu do Brasil – raras vezes deixou a cidade do Rio de Janeiro – e não podia dominar nuances que só mesmo quem vivera na França poderia distinguir com facilidade.
A essa época, Machado de Assis era ainda muito jovem e mais conhecido como “folhetinista, crítico teatral, crítico literário, comediógrafo, poeta, tradutor – de poemas, peças teatrais e romances – e até mesmo como censor do Conservatório Dramático", órgão oficial incumbido de julgar os textos que seriam levados ao palco, como observa João Roberto Faria em Do teatro: textos críticos e escritos diversos (São Paulo, Editora Perspectiva, 2008). Ele já contava com 31 anos de idade, quando começou a publicação de seus livros de contos e romances.
Segundo Massa, este Pinel seria um autor vira-casaca, defensor da República que passou a apoiar o príncipe Napoleão, autor do golpe de estado, ou seja, um oportunista, que escrevia e montava vaudevilles para agradar ao poder.
De Léon Gozlan, Massa diz ter sido um romancista que por algum tempo trabalhou como secretário de Honoré de Balzac (1799-1850), atividade de que se aproveitou para escrever Balzac intime chez lui. Já Paul-Jules Barbier, autor de ‘Maxwel”, foi um escritor célebre, responsável por vários livretos de óperas representadas ainda hoje.
Diz Massa, com certa ironia, que o tema de “Maxwel” não é estranho ao Brasil, que até hoje, em alguns de seu segmentos, ainda discute a teoria de Hippolyte Léon Denizar Rivail, aliás Allan Kardec (1804-1869), pedagogo considerado codificador do espiritismo. É de notar que ainda hoje os franceses se surpreendem com a romaria de turistas brasileiros em torno de seu túmulo em Paris, já que é um nome completamente esquecido na França e que, em sua época, foi visto mais como um charlatão do que um investigador de fenômenos paranormais. E que Machado de Assis costumava ridicularizar as experiências mediúnicas que se faziam no Rio de Janeiro.
Massa assegura que o jovem Machado dominava amplamente o francês, mas não deixa de apontar alguns deslizes do tradutor, tendo encontrado pelo menos dez equívocos em “Os burgueses de Paris”. Um deles é que Machado não percebeu que La Pistole, nome de uma prisão em Paris, queria designar também um local em que, mediante pagamento por fora, o preso recebia um tratamento melhor. Outro erro é que o tradutor tomou “moutard” como nome de família, embora a palavra em francês falado queira dizer “moleque”. Equívocos que, provavelmente, deram-se porque Machado de Assis nunca saiu do Brasil – raras vezes deixou a cidade do Rio de Janeiro – e não podia dominar nuances que só mesmo quem vivera na França poderia distinguir com facilidade.
A essa época, Machado de Assis era ainda muito jovem e mais conhecido como “folhetinista, crítico teatral, crítico literário, comediógrafo, poeta, tradutor – de poemas, peças teatrais e romances – e até mesmo como censor do Conservatório Dramático", órgão oficial incumbido de julgar os textos que seriam levados ao palco, como observa João Roberto Faria em Do teatro: textos críticos e escritos diversos (São Paulo, Editora Perspectiva, 2008). Ele já contava com 31 anos de idade, quando começou a publicação de seus livros de contos e romances.
V
Além de especialista na obra de Machado de Assis, Massa é autor de notáveis estudos acerca de Manuel Antônio de Almeida (1831-1861), Carlos Drummond de Andrade (1902-1987) e outros nomes da literatura brasileira. De Drummond, traduziu Reunião (1969). Nos últimos tempos, tem se dedicado a estudar o português falado em outros países de expressão portuguesa, tendo publicado até o momento três volumes do Dictionnaire encyclopédique et bilingue Portugais-Français des particularités de la langue portugaise (vol. I: Guiné-Bissau; vol. II: São Tomé-Príncipe; vol. III: Cabo Verde). Em 2007, recebeu a medalha comemorativa dos 110 anos da Academia Brasileira de Letras, entidade que já o havia agraciado em 1986 com a medalha Machado de Assis.
[Adelto Gonçalves é autor associado de Tlaxcala, a rede de tradutores pela diversidade lingüística. Este texto foi publicado em 18 de junho de 2009 em http://www.tlaxcala.es/pp.asp?reference=7887&lg=po]
[Adelto Gonçalves é autor associado de Tlaxcala, a rede de tradutores pela diversidade lingüística. Este texto foi publicado em 18 de junho de 2009 em http://www.tlaxcala.es/pp.asp?reference=7887&lg=po]
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