segunda-feira, 18 de janeiro de 2010

Médicos e seus doentes imaginários


Em sua edição de 30 de setembro de 2009, a Revista Veja publicou uma matéria assinada por Naiara Magalhães destacando o uso que alguns hospitais e faculdades de medicina estão fazendo das artes cênicas para melhorar a qualidade da relação entre médico-paciente. Curiosamente, a reportagem termina com a seguinte sugestão: “No século XVII, o dramaturgo francês Molière (1622-1673) usava o palco para criticar a precariedade da ciência de seu tempo e condenar, em especial, o comportamento dos médicos, marcado pelo charlatanismo, descaso e frieza. Em O doente imaginário, uma de suas peças mais encenadas, os médicos são bufões que só pensam em dinheiro. Talvez fosse interessante – e instrutivo – incluir a leitura de Molière nas simulações que ensinam os médicos a ouvir, consolar e olhar nos olhos de seus pacientes.”
O doente imaginário foi a última peça escrita e encenada por Molière. Durante a quarta apresentação ele, que fazia o papel principal, acabou tendo crises de tosse e hemoptise nada imaginárias e faleceu pouco depois. Artista dos costumes e vícios mais delicados do homem, Molière dedicou toda a sua vida ao teatro, renunciando aos privilégios da família e se tornando um dos maiores símbolos da arte do palco ao longo dos séculos. Foi autor, administrador da sua trupe, encenador, diretor, ator não só em suas peças, mas em dezenas de outras.
A comédia fecha com chave de ouro a sua produção e vem somar-se a longa série de obras que satirizam os médicos e a medicina da época, tema de grande atualidade: faz pensar nos limites da nossa ciência e na arrogância dos detentores de conhecimentos especializados.
A publicação de O doente imaginário da Editora Crisálida é a única integral e bilíngue (francês-português) deste famoso texto de Molière no Brasil. A última comédia escrita e encenada por Molière. Além do humor, a crítica social contida no texto, em especial à medicina e aos médicos, é de grande atualidade.

(Revista Veja - edição 2132 – ano 42 – nº 39 – 30 de setembro de 2009)

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