sexta-feira, 29 de janeiro de 2010

O segredo de Minas: a origem do estilo mineiro de fazer política


'O Segredo de Minas' ganha finalmente tradução no país
por João Pombo Barile
[jornal O Tempo, em 01/08/2009]

É bastante conhecido o prefácio escrito por Antonio Candido para uma das edições de "Raízes do Brasil", de Sérgio Buarque de Holanda. Nele, o mestre assinala os livros que foram fundamentais para que sua geração pudesse compreender o Brasil.

Segundo o crítico, além do livro de Sérgio, "Casa Grande e Senzala", de Gilberto Freyre, e "Evolução Política do Brasil", de Caio Prado Júnior, poderiam ser considerados como os livros mais importantes para compreendermos nossa "formação" como povo: as três obras fundamentais que, a partir da geração de Candido, serviram de bússola na discussão de nossa identidade nacional.

O prefácio de Candido é do final dos anos 60. E muita água já passou debaixo desta ponte. Muitos outros autores, depois da tríade assinalada por Candido, acabariam entrando na lista de "livros que interpretaram o Brasil". Ninguém que nunca leu Celso Furtado ou Darcy Ribeiro, para ficar em apenas dois nomes, pode dar o seu palpite do que seja ser brasileiro.

Sem medo de errar, considero O Segredo de Minas: A Origem do Estilo Mineiro de Fazer Política (1889-1930), de Amilcar Vianna Martins Filho, um dos livros que a partir de agora terá que necessariamente ser lido e citado para quem se interessa pela discussão de nossa formação.

Com a versão para o português da tese de doutorado de Amilcar, defendida em 1986, na Universidade de Illinois, nos Estados Unidos, o leitor agora terá que reservar um espaço em sua estante para uma obra que deve ficar ao lado de autores como Sérgio, Gilberto, Caio, Furtado...

Dois temas

Conforme assinala José Murilo de Carvalho, professor titular de história da UFRJ, o livro de Amilcar enfrenta dois temas da historiografia que ainda estão longe de ser resolvidos empírica e teoricamente.

"O primeiro é mais tipicamente mineiro. Trata-se da natureza da economia do Estado ao final do século XIX e primeiras décadas do século XX", explica o historiador. "Contra a visão dominante que afirmava a preeminência do café, o autor documenta a crise dessa cultura e seu peso relativamente reduzido na economia mineira."

Já o segundo tema, sempre segundo José Murilo, teria um alcance mais amplo e trataria da relação entre a economia cafeeira e a política.

Enfrentando um lugar-comum, que sempre afirmou que a política de nosso Estado se caracterizaria pela representação dos interesses dos cafeicultores, Amilcar afirma que o surgimento do estilo mineiro de governar é fruto exatamente da crise cafeeira e da fragmentação da economia do estado. "O estilo mineiro de fazer política", escreve José Murilo, "conhecido nacionalmente como capacidade de articulação e negociação, seria fruto exatamente da ausência de qualquer hegemonia econômica no Estado e da presença de uma elite capaz de costurar divergências e usar a máquina de governo como dominação e cooptação políticas".

Escrito com rigor e precisão, o livro de Amilcar Vianna Martins combate o "achômetro" que tanto mal faz para as ciências sociais.

2 comentários:

marcos disse...

"Amilcar afirma que o surgimento do estilo mineiro de governar é fruto exatamente da crise cafeeira e da fragmentação da economia do estado"

Tô lendo e gostando, mas acho que ele não afirma isso não. Pelo contrário, a fragmentação, segundo ele, já existia ANTES de surgir a cafeicultura.

MAM

marcos disse...

O comentario estava certo. Ele afirma aquilo mesmo.

MAM